domingo, 24 de abril de 2016

Ginseng para vitalidade



A medicina tradicional chinesa e a aiurvédica, da Índia, indicam o seu extrato para pessoas em convalescença, porque a planta ajudaria a repor as perdas causadas pela doença.
O motivo de tanta vitalidade, pesquisas recentes descobriram, é uma capacidade que a planta tem de adaptar o organismo a situações adversas, principalmente aquelas que levam a um desgaste físico e emocional.
Daí porque a planta é chamada adaptógena. Ela percebe que o corpo está sobrecarregado e acaba fortalecendo suas defesas contra as infecções que podem decorrer do estresse. De quebra, ainda melhora o raciocínio, a memória e dá uma carga de ânimo extra.
Só é preciso ficar de olho para não misturar o fitoterápico (aprovado em 2014 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária nos casos de fadiga física e mental) a outros remédios. A combinação poderia oferecer riscos ao paciente. 
SEMPRE CONSULTE SEU MÉDICO! LEMBRE -SE NEM TUDO QUE É BOM PARA UM É BOM PARA O OUTRO! 

A História da Hipnose





Pré-História

A prática do hipnotismo é, sabidamente, velha. Velha como a própria Humanidade, conforme o provam os achados arqueológicos e indícios psicológicos pré-históricos. Em sua origem, o hipnotismo aparece envolto num manto de mistérios e supertições. Os fenômenos hipnóticos não eram admitidos como tais. Seus praticantes freqüentemente se diziam simples instrumentos da vontade misteriosa dos céus. Enviados diretos de Deus ou de Satanás. Eram feiticeiros e bruxos, shamans emedicinemen. Suas curas eram levadas invariavelmente a conta dos milagres. Embora o hipnotismo tivesse abandonado esse terreno, ingressando cada vez mais no campo das atividades cientificas, tornando-se matéria de competência psicológica, ainda aparecem, em intervalos regulares, em todos os quadrantes da terra, hipnotistas do tipo pré-histórico, a realizar "curas inexplicáveis" e a dar trabalho as autoridades.

Deixando de lado a parte sibilina e supersticiosa, os fenômenos produzidos pela técnica hipnótica já eram observados como tais, na velha civilização Babilônica, na Grécia e na Roma antigas. No Egito existiam os "Templos dos Sonhos", onde se aplicavam aos "pacientes" sugestões terapêuticas enquanto dormiam. Um papiro de nada menos que três mil anos contém instruções técnicas de hipnotização, muito semelhantes as que encontramos nos métodos contemporâneos. Inúmeras gravuras daquela época mostram sacerdotes-médicos, colocando em transe hipnótico presumíveis pacientes. Os gregos realizavam peregrinações a Epidaurus, onde se encontrava o templo do Deus da Medicina, Esculápio. Ali, os peregrinos eram submetidos a hipnose pelos sacerdotes, os quais invocavam alucinadamente a presença de sua divindade a indicar os possíveis expedientes de cura. As sacerdotisas de Ísis, postas em estado de transe, manifestavam ao Faraó fatos distantes ou fatos ainda a ocorrer. Semelhantemente, os oráculos e as sibilas articulavam suas profecias sob o efeito do transe auto-hipnótico. Pela auto-hipnose se explica também a anestesia dos mártires, que se submetiam as maiores torturas, sem dar o menor sinal de sofrimento. Os sacerdotes de Caem recorriam a hipnose em massa para mitigar os descontentamentos coletivos.

Dentre os grandes homens, sábios, filósofos e líderes religiosos, que se dedicaram ao hipnotismo, figura Avicena, no século X; Paracelso, no século XVI, e muitos outros. Em plena Idade Média, Richard Middletown (Ricardo Média-Vila), discípulo de São Boa Ventura, elaborou um tratado alentado sobre os fenômenos que mais tarde conheceríamos como hipnóticos.

O Oriente, ainda mais do que o Ocidente, vem mantendo uma tradição ininterrupta na prática hipnótica. Os métodos Iogas são considerados dignos da atenção científica até aos nossos dias. Dentre os hindus, mongóis, persas, chineses e tibetanos, a hipnose vem sendo exercida há milênios, ainda que preponderadamente para fins religiosos, não se sabendo ao certo até que ponto sua verdadeira natureza ali está sendo conhecida.

Padre Gassner

Na segunda metade do século XVIII, na Alemanha do Sul, apareceu um padre jesuíta, de nome Gassner. Era um padre um tanto teatral. Realizava curas espetaculares numa dezena de milhares de pessoas. A fim de assegura-se a aprovação da Igreja, explicava seus métodos como um processo de exorcismo. Consoante a crença comum da época, os doentes eram simplesmente possuídos pelo demônio. E os que se sentiam com o diabo no corpo vinham ao padre para que ele o expulsasse. E o padre aparecia a sua clientela, todo de preto, de braços estendidos, segurando um crucifixo cravejado de diamantes a frente dos pobres. Falava em latim e com voz cava. Um médico que assistiu a uma sessão dessas com uma jovem camponesa, nos descreve esse método fantástico:

"Entrando de maneira dramática no aposento, o Padre Gassner tocou a jovem com o crucifixo, essa, como que fulminada, caiu ao chão em estado de desmaio. Falando-lhe em latim, a paciente reagiu instantaneamente. A ordem "Agitatur bracium sinistrum", e o braço esquerdo da jovem começou a mover-se num crescendo de velocidade. E ao comando tonitroante "Cesset!", o braço se imobilizara, voltando a posição anterior. Ato contínuo, o padre lhe sugere que está louca, e a jovem, com o rosto horrivelmente desfigurado, corre furiosamente pela sala, manifestando todos os sintomas característicos da loucura. Bastou a ordem enérgica "Pacet!" para que ela se aquietasse como se nada houvesse ocorrido de anormal. O padre Gassner nesta altura lhe ordena falar em latim, e a jovem pronuncia o idioma que normalmente lhe é desconhecido. Finalmente, Gassner ordena a moça uma redução nas batidas do coração. E a médico presente constata uma diminuição na pulsação. Ao comando contrário, o pulso se acelera, chegando a 120 pulsações por minuto. Em seguida, a jovem, estendida no chão, recebe a sugestão de que suas pulsações se iriam reduzir cada vez mais, até cessarem completamente. Seus músculos se iriam relaxando totalmente e ela morreria, ainda que apenas temporariamente. E o médico, espantado, não percebendo sequer vestígios de pulso ou de respiração, declara a jovem morta! O padre Gassner sorri confiantemente. Bastou uma ordem sua para que a jovem tornasse gradativamente a vida. E com o demônio devidamente expulso de seu corpo, a moça, sentindo-se como nascida de novo, desperta e agradece sorridente ao padre o milagre de sua cura".

Não resta dúvida que o padre Gassner era um perito hipnotista e um grande psicólogo. Hoje tamanha teatralidade constituiria uma afronta a dignidade cultural de muitos pacientes. Já não temos que recorrer ao latim, podendo hipnotizar na língua do país. Contudo, o método do padre Gassner, ligeiramente modificado, ainda surtiria efeito em muita gente.

Mesmer

É uso ainda fazer remontar historicamente o começo do hipnotismo científico ao aparecimento de Franz Anton Mesmer. Estudioso da Astronomia, Mesmer deu uma versão não menos fantástica e romântica aos fenômenos hipnóticos do que o padre Gassner. Em lugar de responsabilizar o demônio pelas enfermidades, responsabilizava os astros. Não podia haver nada mais lisonjeiro as nossas pretensões do que isso de ligar o humilde destino humano ao glorioso destino astral. Educado para seguir a carreira eclesiástica, Mesmer teve suas primeiras instruções num convento, tendo aos 15 anos ingressado num colégio de jesuítas em Dillingen. Todavia, interessando-se muito pela física, pela matemática e, sobretudo, pela astronomia, resolveu trocar a carreira religiosa pela da medicina. Entrou na Universidade de Viena, onde se doutorou com uma tese intitulada: "De Planetarium Influx", trabalho em que se propunha demonstrar a influência dos astros e dos planetas, ao mesmo tempo como causas de doenças e como forças curativas. Sabemos que no passado muitos dos mais eminentes filósofos e cientistas incorreram nessa vaidade. Entre esses, o grande Kepler, O indigitado autor do horóscopo de Wallenstein. Santo Tomás de Aquino mesmo acreditava na influência astral. Dizia que certos objetos, como vivendas, obras de arte e vestimentas deviam suas qualidades ao influxo misterioso dos astros.

Existia ainda uma estreita relação de sentimentos entre a crença primitiva nos demônios e a astrologia. Entre os fantasmas da terra e os astros, os fantasmas do céu. Ambos povoando a noite. Ambos refletindo os anseios e as esperanças, os temores e as vaidades humanas. Ambos pertencendo ao mundo das projeções psíquicas, contribuindo para o mundo das lendas e das supertições.

A presença de expoentes clericais na história do hipnotismo, que não está adstrita às figuras do Padre Gassner e do Abade Faria, tem a sua explicação. A. Kardiner lembra a propósito que até o advento de Charcot era necessário conciliar a hipnose com um conceito teológico, ao invés de conciliá-la com um conceito científico do homem. Ainda persiste, como que uma coexistência velada entre esses dois conceitos (o teológico e o científico) não unicamente no hipnotismo como em todas as ciências que tem como objeto o estudo das leis do comportamento humano, conforme se infere facilmente da ativa e mais ou menos fecunda participação dos religiosos nas mesmas. E isso, não obstante a dicotomia que se aponta entre a natureza espiritual das religiões e a natureza secular da hipnose. Lembro-me a propósito do diálogo de um casal presente numa das minhas demonstrações científicas. A esposa: "Isso é espiritismo". O marido: "Não, meu bem, espiritismo é isso". A fé na hipnose e no hipnotista ainda se funde e confunde amiúde com a fé religiosa, a fé em Deus e os fenômenos espetaculares, provocados hipnoticamente, com os milagres de Cristo. Frases ainda proferidas pela maioria dos hipnotistas de palco (e não somente os de palco) como "Você só ouve a minha voz... Só obedece a mim... Só a minha vontade é soberana etc, etc" não unicamente ilustram como ainda reforçam essa similitude entre a submissão e devoção à autoridade divina e à submissão ao mesmo tempo reverente e confiante à autoridade do hipnotista. Não seria de estranhar, por isso, que o hipnotismo tenha atraído não apenas religiosos e cientistas, senão também (e em grande escala) elementos paranóicos e portadores da psicose mágica-fragmentária conhecida como esquizofrenia.

Tanto para mostrar que a explicação demonológica de Gassner e a doutrina do influxo astral de Mesmer apresentavam, ao menos naquela época, as suas afinidades ideológicas. A tese, segundo a qual fluidos invisíveis, emanados dos astros, povoavam o organismo, consubstanciada na doutrina do Magnetismo Animal, foi logo bem recebida e despertou o interesse do padre Hell, um jesuíta que foi professor da Universidade de Viena e um dos astrólogos da Corte de Maria Teresa.

O padre Hell começou a intentar curas por meio de imãs. E Mesmer, reconhecendo nesse processo terapêutico identidade de princípios, por sua vez, passou a usar o imã com seus doentes. O sensacionalismo da imprensa fez o resto, espalhando a notícia de curas magnéticas espetaculares em pacientes desenganados.

A doutrina de Mesmer se resume no seguinte: a doença resulta da freqüência irregular dos fluidos astrais e a cura depende da regulagem adequada dos mesmos. Certas pessoas teriam o poder de controlar esses fluidos. Eram, por assim dizer, os donos dos fluidos e da saúde, podendo comunica-los a outrem, direta ou indiretamente, por intermédio de objetos adrede magnetizados pelo seu contato. Era esse fluido vital, uma espécie de corrente elétrica que se aplicava a parte enferma do paciente. Ao contato dessa corrente, o indivíduo tinha de entrar em "crise", caracterizada por convulsões, sem o que não seria curado. Mesmer, a princípio, tocava os pacientes com uma vara de metal para provocar as convulsões terapêuticas. Mais tarde produzia essas mesmas crises com a imposição das mãos e passes, expediente esse que vem de data imemorial e que até hoje está sendo usado pelos ocultistas.

No fim, já não podendo atender individualmente a numerosa clientela, recorreu a magnetização indireta, dispensando o toque pessoal ao paciente. Os pacientes, em números de trinta a quarenta, assentavam-se em volta de uma tina circular, contendo garrafas de água magnetizada, saindo de cada gargalo uma vara metálica. Estabelecendo contato com essas varas, num recinto meio escurecido e ouvindo uma música suave, os pacientes eram acometidos das convulsões terapêuticas. Um método realmente engenhoso de hipnotização por sugestão indireta.

Não obstante as demonstrações bem sucedidas, as idéias de Mesmer não eram bem recebidas pelos círculos médicos de Viena. Intimado pelas autoridades a descartar-se de seu método terapêutico tão extravagante, Mesmer, desgostoso, mudou-se para Paris.

Em Paris, a fama de Mesmer espalhou-se rapidamente. O "mesmerismo" tornou-se moda na aristocracia francesa. Era o assunto de todos os salões. Quem quer que se prezasse, tinha de ser mesmerizado. As "curas coletivas" assumiram em Paris proporções muito mais espetaculares do que em Viena.

Deleuze, em sua "História Crítica do Magnetismo Animal", descreveu uma dessas cenas: "Num dos compartimentos, sob a influência das varetas, que saíam de garrafas contendo água magnetizada, e aplicadas as diversas partes do corpo, ocorriam diariamente as cenas mais extraordinárias. Gargalhadas sardônicas, gemidos lancinantes e crises de pranto se alteravam. Indivíduos atirando-se para trás a contorcer-se em convulsões espasmódicas. Respirações semelhantes aos estertores de moribundos e outros sintomas horríveis se viam por todas parte. Subitamente, esses estranhos atores atiravam-se uns aos braços dos outros ou então se repeliam com expressões de horror.

Enquanto isso, num outro compartimento, com as paredes devidamente forradas, apresentava-se outro espetáculo. Ali mulheres batiam com as mãos contra as paredes ou rolavam sobre o assoalho coberto de almofadas, com acessos de sufocação. No meio dessa multidão arfante e agitada, Mesmer, envergando um casaco lilás, movia-se soberanamente, parando, de vez em quando, diante de uma das pacientes mais excitadas. Fitando-lhe firmemente os olhos, enquanto lhe segurava ambas as mãos, estabelecia contato imediato por meio de seu dedo indicador. Doutra feita operava fortes correntes, abrindo as mãos e esticando os dedos, enquanto com movimentos ultra-rápidos cruzava e descruzava os braços, para executar os passes finais".(*)

(*) Deleuze F.; Histoire Critique du Magnetisme Animal, Hipolyte Balilliére, Paris, 1819. Vol 4, pg 34.

Semelhante sucesso não se exerce impunemente. Mais uma vez a medicina ortodoxa moveu a Mesmer um processo de perseguição. Em 1784, Luís XVI instigado pela classe médica, de certo modo despeitada, nomeou uma comissão de sábios para investigar a natureza do fenômeno mesmeriano. A comissão era composta das três figuras mais eminentes da ciência daquele tempo, Lavoisier, Bailly e Banjamin Franklin, na ocasião embaixador americano em Paris. Uma petição dirigida por Mesmer, em data anterior, a academia Francesa, no sentido de investigar-lhe o fenômeno fora indeferida. Mesmer, indignado com o indeferimento, recusou-se a submeter-se a prova dos citados cientistas. Estes limitaram-se a presenciar as demonstrações realizadas por alunos. Enfiaram as mãos nas tinas, e excusado será dizer que o banho magnético não lhes provocou os efeitos descritos acima. Nada de crises ou de convulsões. Nada de fluidos ou coisas semelhantes fora registrados. Enfim, os sábios nada sentiram de anormal e saíram incólumes da experiência. Hoje seriam simplesmente classificados como insuscetíveis. Como seria de esperar, o paracer da comissão era condenatório ao mesmerismo. Não obstante os êxitos obtidos em centenas de pessoas, tudo era classificado taxativamente de fraude, farsa e embuste.

Oficialmente desacreditado, Mesmer abandonou Paris. Viveu algum tempo sob nome suposto na Inglaterra, tendo depois voltado para a Áustria, onde morreu em completo ostracismo em 1815.

Julgada pela posteridade, a figura de Mesmer não merecia essa degradação. Mesmer era sincero nas suas convicções. Não reconheceu a verdadeira natureza do fenômeno hipnótico que soube desencadear tão espetacularmente. Note-se que, ainda hoje, alguns dos aspectos do hipnotismo estão por ser explicados, ou pelo menos melhor explicados.

O mesmerismo, ou magnetismo animal, continuou ativo ainda por algum tempo depois da morte de seu fundador. E até hoje muita gente confunde hipnotismo com magnetismo, usando esta palavra como sinônimo daquela. Para Mesmer, a hipnose ainda era uma força, emanada, ainda que por via astral, da pessoa do hipnotizador. É o estranho poder hipnótico no qual ainda acredita a maioria dos nossos contemporâneos.

O Marquês de Puységur

Dentre os discípulos de Mesmer que fizeram reviver a ciência que estava por cair em esquecimento com a morte de seu fundador, figurava uma personalidade influente: o marquês de Puységur.

Puységur continuava a empregar os métodos do mestre até o dia em que, por mera casualidade, magnetizando um jovem camponês de nome Victor, que sofria de uma infecção pulmonar, verificou que o expediente magnético podia produzir um estado de sono e repouso, em lugar das clássicas crises de convulsões. E o paciente do marquês não se detinha no sono: dormindo, movia os lábios e falava, mais inteligentemente do que no estado normal. Chegou mesmo a indicar um tratamento para sua própria enfermidade, tratamento esse que obteve pleno êxito, valendo-lhe o completo restabelecimento. Nesse estado de sono, Victor parecia reproduzir pensamentos alheios, muito superiores a sua cultura rudimentar. No mais o paciente se conduzia como um sonâmbulo. Puységur estava diante de um fenômeno que não hesitou em rotular de "Sonambulismo Artificial".

Puységur percebeu de um relance a transcendência desse novo aspecto do fenômeno hipnótico que ainda considerava magnético, e passou a explora-lo sistematicamente, Enquanto o mestre provocava crises nervosas, convulsões histéricas, prantos e desmaios, o discípulo agia em sentido contrario, sugerindo aos pacientes paz, repouso, ausência da dor e um estado post-hipnotico agradável. Uma norma que se iria perpetuar na prática hipnótica daí em diante.

Embora continuasse a usar passes, juntamente com a sugestão, na indução do transe, Puységur deu um impulso decisivo ao hipnotismo científico. A ele se devem os primeiros critérios psicologicamente corretos de hipnose e suscetibilidade hipnótica, o que não impediu que depois dele outros fenômenos hipnóticos fossem registrados.

O marquês de Puységur observou em muitos dos seus sujeitos fenômenos telepáticos e clarividentes. Uma repulsa, de certo modo convencional, para com tais aspectos do hipnotismo, fez com que muitos dos autores contemporâneos mais ortodoxos se insurgissem sistematicamente contra semelhantes possibilidades. A maioria desses últimos não hesita em desmerecer a importantíssima contribuição de Puységur somente por esse motivo.(*)

(*) O autor, nos milhares de pessoas que hipnotizou, teve um caso de clarividência e inúmeros casos de incidência telepática, indiscutivelmente provados.


O Abade Faria

No mesmo ano em que faleceu Mesmer, apareceu em Paris um monge português, o Padre José Custódio de Faria, Mais conhecido sob o nome de Abade Faria graças ao famoso romance de Alexandre Dumas "O conde de Monte Cristo". Excusado será dizer que a vida agitada do padre português era na realidade bem diversa da que nos apresentou o ficcionista dos "Três Mosqueteiros". Nascido e criado nos arredores de Goa, nas Índias Portuguesas, o abade Faria, segundo nos informam seus biógrafos, descende de uma família de brâmanes hindus, convertida ao cristianismo no século XVI. Em Paris, em plena Revolução o jovem padre português travou relações com o marquês de Puységur. Estimulado pelo marquês, o jovem abade Faria (que na realidade nunca foi abade) entregou-se de corpo e alma a carreira do hipnotismo, já tento anteriormente adquirido conhecimentos básicos da matéria no extremo Oriente e na sua terra natal. O abade adiantou-se cientificamente em muitos pontos a Puységur. Seu método já era praticamente o nosso. Foi o primeiro a lançar a doutrina da sugestão. Também o primeiro a mostrar que hipnose não era sinônimo de sono, logo no nascedouro dessa confusão. Recomendava o relaxamento muscular ao sujeito, fitava-lhe firmemente os olhos e em seguida ordenava em voz alta:"DURMA!"... A ordem era várias vezes repetidas. E consoante as experiências modernas, os elementos mais suscetíveis entravam imediatamente em transe hipnótico. Não obstante ordenar o sono, o abade Faria contribuiu poderosamente no desenvolvimento daquilo que, século e meio mais tarde, se chamaria de "hipnose acordada". Foi o primeiro hipnotista na acepção científica da palavra. O primeiro a reconhecer o lado subjetivo do fenômeno em toda sua extensão. O primeiro a propagar que a hipnose se produzia e se explicava em função do sujeito. O transe estava no próprio sujeito e não era devido a nenhuma influência magnética do hipnotizador. Suas teorias já eram as atuais, despidas de toda ingerência mística ou sobrenaturalista. Nada de eflúvios misteriosos. Nada de forças invisíveis. Tudo uma questão de sugestão, psicologia ou pouco mais.

Não obstante sua sinceridade e objetividade científicas, o padre Faria era um tipo de personalidade em tanto quanto teatral. Chamava a atenção pelo seu aparato, suas vestimentas e suas maneiras um tanto extravagantes. É esta, no entanto, de certo modo, até aos nossos dias, parte integrante do expediente psicológico da hipnotização.

Já no princípio do século XIX o nome do abade Faria era muito popular em Paris. Sua figura era vista com freqüência nos salões da nobreza e da alta sociedade parisiense. A exemplo de todos os expoentes do hipnotismo antes e depois dele, viveu ao mesmo tempo horas de glória e de opróbrio. Ofereceram-lhe uma cadeira de Filosofia na Academia de Marselha, e sem nunca ter estudado medicina foi proclamado membro da Ordem dos Médicos.

Em Paris, onde desfrutava de enorme prestígio, o padre Faria abriu uma escola de magnetismo, depois que a polícia lhe proibira as experiências de hipnotismo, o padre Faria não escapou a perseguição maliciosa dos seus contemporâneos. Seus inimigos recorreram a um dos expedientes mais estúpidos (ainda muito usado) para desacredita-lo diante da opinião pública:contrataram um ator para simular hipnose e na hora oportuna abrir os olhos e gritar:"embuste!" O golpe, não obstante irracional, não deixou de surtir o efeito almejado. Por incrível que possa parecer, o abade faria ficou desmoralizado devido a um engano, o qual poderia ocorrer ao mais experiente e confiante dos hipnotizadores de palco que caem vítima dessa cilada maliciosa e desonesta. Nas minhas demonstrações usava aparar esse golpe com um simples aviso: "As pessoas que se apresentarem com propósitos de simulação darão prova de ser, entre outras coisas, portadoras de doença mental ou tara caracterológica".

Contudo, o abade Faria, envolvido nas agitações da revolução Francesa, sofreu mais perseguição política do que científica. Segundo um livro publicado há mais de um século, da autoria de um antigo funcionário de polícia parisiense, descrevendo o caso verdadeiro que serviria de fonte inspiradora a Alexandre Dumas, o abade Faria teria morrido em uma prisão de Esterel, onde fora lançado por motivos políticos, tento deixado toda sua fortuna a um dos seus companheiros de prisão, condenado devido a uma denuncia falsa, fortuna essa calculada naquele tempo em quatro bilhões. Fadado assim a tornar-se personagem de uma das mais famosas obras de ficção, o padre Faria, herói de Monte Cristo, não deixou de vingar como pesquisador e cientista, reconhecido pela posteridade. "O padre Faria - declarou recentemente o doutor Egas Moniz, Prêmio Nobel de Medicina e um dos maiores expoentes da psiquiatria contemporânea - viu o problema da hipnose em suas próprias bases com uma grande precisão e com clareza. Foi ele o primeiro a marcar a hipnose e os seus limites naturais... Foi ele que defendeu, pela primeira vez, a doutrina sobre a interpretação dos fenômenos do sonambulismo, ponto de partida de toda sua doutrina filosófica". O mais importante, porém, é a sua contribuição a doutrina da sugestão.


Elliotson

Aquilo que já começara a denunciar-se como fenômeno essencialmente psicológico e subjetivo, ainda funcionaria por algum tempo e para efeitos terapêuticos importantes, sob o nome de magnetismo ou mesmerismo. Um dos derradeiros expoentes do magnetismo era o Dr. John Elliotson, eminente médico inglês e uma das figuras mais eminentes da história médica britânica. Professor de Medicina na universidade de Londres e Presidente da Royal Medical Society, era o homem que introduziu o estetoscópio na Inglaterra, Além dos métodos de examinar o coração e o pulmão, ainda em uso. O dr elliotson foi o primeiro a usar a hipnose (ainda não conhecida por esse nome) no tratamento da histeria. E começou a introduzir o “sono magnético” na prática hospitalar, tanto para fins cirúrgicos como para os expedientes psiquiátricos.

Os métodos tão poucos ortodoxos do Dr. Elliotson não tardaram em criar uma onda de oposição. E o conselho da Universidade acabou por proibir o uso do mesmerismo no Hospital. Elliotson, em virtude disso, pediu sua demissão, deixando a famosa declaração: “A Universidade foi estabelecida para o descobrimento e a difusão da verdade. Todas as outras considerações são secundarias. Nós devemos orientar o público. A única questão é saber se a coisa é ou não verdadeira”. Elliotson fundou posteriormente o Mesmeric Hospital em Londres e hospitais congêneres se iam fundando em outras cidades inglesas e no mundo afora.

Os adeptos da escola magnética anunciavam seus feitos terapêuticos em toda parte. Na Alemanha, na Áustria, na França e mesmo nos Estados Unidos se realizavam intervenções cirúrgicas sob “sono magnético”. Na América, o Dr. Albert Wheeler remove um pólipo nasal de um paciente, enquanto o “magnetizador” Phineas Quimby atua como anestesista. Já em 1829 o Dr. Jules cloquet usou o mesmo recurso anestésico numa mastectomia. Jeane Oudet comunica a Academia Francesa de Medicina seus sucessos magnéticos obtidos em extrações de dentes. A ciência ortodoxa poderia ter aceito o fenômeno e rejeitar apenas as teorias. Acontece que, em relação ao mesmerismo, nem os fatos eram aceitos, sobretudo na cética Inglaterra.


Esdaile

Os pacientes de Esdaile (outro adepto da escola mesmeriana) que sofriam as mais severas intervenções cirúrgicas, inclusive amputações sob “sono magnético”, eram apontados pela ciência ortodoxa como “um grupo de endurecidos e renitentes impostores”.

O lugar de Esdaile na história do hipnotismo não se justifica como criador de métodos ou de escola, mas, sim, como exemplo de pioneiro na luta pelo reconhecimento da hipnose como coadjuvante valiosa da cirurgia. James Esdaile, jovem cirurgião escocês, inspirou-se na leitura dos trabalhos de Elliotson sobre o mesmerismo. Esdaile começou a sua prática na Índia, como médico da “British East Índia Company”. Em Calcutá realizou milhares de intervenções cirúrgicas leves e centenas de operações profundas, inclusive dezenove amputações, apenas sob efeito da anestesia hipnótica. O éter e o clorofórmio ainda não eram conhecidos como agentes anestésicos. Uma das testemunhas descreve de como Esdaile extirpara um olho de um paciente, enquanto este acompanhava com o outro o andamento da operação, sem pestanejar, Os fatos eram de esmagadora evidência. Contudo, o Calcutta Medical College moveu-lhe insidiosa campanha de desmoralização. A anestesia não valia como prova de coisa alguma. Os médicos faziam circular a notícia de pacientes que haviam sido comprados para simular a ausência de dor. As publicações médicas recusavam-se a aceitar as comunicações do cirurgião escocês. Contra Esdaile usava-se ainda o argumento bíblico. Deus instituíra a dor como uma condição humana. Portanto, era sacrílega a ação anestésica do magnetizador.(*)

Em 1851, Esdaile teve de fechar seu hospital. Voltou á Escócia completamente desacreditado. Mudou-se posteriormente para a Inglaterra, onde não teve melhor sorte. A Lancet publicou a propósito a seguinte admoestação: “O mesmerismo é uma farsa demasiado estúpida para que se lhe possa conceder atenção. Consideramos seus adeptos como charlatões e impostores. Desviam ser expulsos da classe profissional. Qualquer médico que enviasse um doente a um charlatão mesmerista devia perder sua clientela para o resto dos seus dias”. A Sociedade Britânica de Medicina acabou por interditar a Esdaile o exercício profissional. A exemplo de seu mestre Mesmer, esses mártir do hipnotismo morreu no mais completo ostracismo.

(*) Idêntico argumento se usou contra Benjamin Franklin. O pára-raios também era condenado como uma tentativa ímpia de anular a vontade de Deus.


Braid

Por volta de 1841 apareceu o homem que marcou o fim do magnetismo animal. A partir dele a ciência passaria a chamar-se hipnotismo. Era o Dr. James Braid um cirurgião de Manchester. Braid assistiu a uma demonstração do famoso magnetizador suíço Lafontaine, que na ocasião se exibia em sensacionais espetáculos públicos na Inglaterra. Era Braid um desses céticos que não perdem oportunidade para uma conversão, desde que se lhes dê uma base cientificamente aceitável. A primeira demonstração não convenceu a Braid. Sua curiosidade, no entanto, fez com que assistisse a uma segunda. Na segunda aceitou o fenômeno, mas não a teoria. Estava Braid diante de um fato em busca de uma explicação que não constituísse, como a do magnetismo animal. Uma afronta a dignidade científica da época. Para não incorrer na pecha de charlatanismo mesmeriano, ele tinha de encontrar uma causa física para o fenômeno. Era ainda e sempre a velha prevenção contra todo o invisível, tudo que não é concreto e palpável. Prevenção essa que, de certo modo, ainda persiste na era do rádio, do raio x e dos projeteis teleguiados. Numa época de abusos fluídicos e místicos, um fenômeno tinha de ser de origem provadamente física para merecer a atenção de um cientista. E Braid era na opinião dos seus biógrafos mais autorizados, antes de mais nada um cientista, e nada dele faria suspeitar o espírito do charlatão.

Tendo observado que Lafontaine usava a fascinação ocular para a indução, concluiu Braid que a causa física do transe era o cansaço sensorial, ou seja, o cansaço visual. Experimentou em casa com sua esposa, um amigo e um criado, mandando-os fixar firmemente o gargalo de um vaso ornamental. Nos três sujeitos o intento foi coroado de êxito. Todos entraram em transe. O processo da indução hipnótica pelo cansaço visual passou a fazer escola. Até aos nossos dias, os livros populares sobre hipnotismo insistem em ensinar o desenvolvimento da resistência ocular á fadiga e ao deslumbramento. E até hoje as vítimas, cujo número é incalculável, ainda fixam horas seguidas um ponto preto, sem pestanejar. E esse ponto se fixa para o resto da vida na sua visão em forma de escotôma. Livros há que não contentes com esse abuso, mandam fitar lâmpadas e o próprio sol, para desenvolver a força de olhar.

Não responsabilizemos, porém Braid por essas práticas ignorantes. O que Braid procurou demonstrar é o fato de o transe assemelhar-se a um estado de sono que podia ser induzido por agente físico. Baseando o processo hipnótico num princípio onírico, nos deu a palavra hipnotismo,derivado do vocábulo grego hipnos, significando sono. Todavia, o sono hipnótico não se confundia com o sono fisiológico, ou seja, o sono normal. Consoante seus conceitos neurofisiológicos, o transe hipnótico era descrito como “sono nervoso” (Nervous Sleep).

Já quase no fim de sua carreira, Braid descartou-se em parte do método do cansaço visual e do da fascinação, pois descobriu que podia hipnotizar cegos ou pessoas em recintos obscurecidos. Importância a sugestão verbal. Vencida essa fase, não tardou em descobrir que também o sono não era necessário. Para produzir os fenômenos hipnóticos, tais como a anestesia, a amnésia, a catalepsia e as alucinações sensoriais, não era preciso submergir o sujeito na inconsciência onírica. Quando, porém, Braid se capacitou de que hipnose não era sono, a palavra hipnotismo já estava cunhada. É, certo ou errado, é o nome que vigora até os nossos dias. A tendência de conservar velhos nomes para designar conceitos novos, ocorre em todas as ciências. Por força do  desenvolvimento histórico dos seus processos de investigação, promove confusão entre aqueles que, não estando em dias como esse desenvolvimento, se atêm ao pé da letra à velha nomenclatura.

Em 1843, Braid publicou seu livro intitulado Neurypnology, or the Rationale of Nervous Sleep,no qual expõe seus métodos para o tratamento de enfermidades nervosas.

Malgrado a sua índole anticharlatanesca, Braid não escapou ás campanhas maliciosas da classe médica, embora essas fossem muito mais brandas do que as movidas contra os seus antecessores mesmerianos. Consoante o provérbio segundo o qual ninguém é profeta em sua terra, as publicações cientificas de Braid encontraram melhor aceitação na França e em outros países do que no seu torrão natal.

Bertrand

Para efeitos históricos, Braid é considerado o pai do hipnotismo. Todavia, o adágio latino que conclui o Pater semper incertum, se aplica com muito mais razão as paternidades científicas. Sabemos que muito antes de Braid, o abade Faria tinha suas idéias modernas e psicologicamente corretas sobre o fenômeno hipnótico, explicado por ele como fenômeno subjetivo. E antes do Abade, o mesmerista Alexander Bertrand, em 1820, já apontava no estado hipnogógico aplicada. Escreveu a propósito Pierre Janet: “Bertrand antecipou-se ao abade faria e a Braid. Foi o primeiro a afirmar francamente que o sonambulismo artificial podia explicar-se simplesmente a base das leis da imaginação. O sujeito dorme simplesmente porque pensa em dormir e acorda porque pensa em acordar. As obras do abade Faria, do general Noizet, na França e as de Braid, na Inglaterra, só contribuíram com uma formulação mais clara destes conceitos, desenvolvendo essa interpretação psicológica em forma mais precisa”.(*)

Os historiadores da psicologia médica consideram Bertrand como um ponto de transição entre o magnetismo e o hipnotismo.

Liébeault

Em 1864, um exemplar da obra de Braid caiu nas mãos de Liébeault, um jovem médico rural francês. Liébeault já adquiria noções de magnetismo em época anterior, quando ainda estudante de medicina. Ao estudar a obra de Braid já se encontrava em Nancy, cidade na qual se dedicou durante mais de vinte anos a hipnoterapia e que devido a sua atividade clínica tornou-se a Capital do Hipnotismo.

Liébeault é descrito pelos seus biógrafos como tendo sido um homem sereno, agradável, bondoso e estimado pelos pobres, que o chamavam Lebon pére Liébeault. Dizia Liébeault aos seus clientes, em sua quase totalidade humilde camponeses. “Se desejais que vos trate com drogas, o farei, mas terei de pagar-me como antes. Se, entretanto, me permitis que vos hipnotize, farei o tratamento de graça”. Ao método de fixação ocular de Braid, Liébeault acrescentou o da sugestão verbal.

(*) Pierre Janet: La Médicine Psychologique, Paris, 1924, p. 22


J. M. Bramwell, um médico que praticava o hipnotismo naquela mesma ocasião na Inglaterra, visitou Liébeault e deixou a seguinte descrição de sua atividade hipnoterápica: “No verão de 1889 passei uma quinzena em Nancy a fim de ver o trabalho hipnótico de Liébeault. Sua clinica, sempre movimentada, compreendia dois compartimentos que davam pelos fundos em um jardim.Seu interior não apresentava nada de especial que pudesse atrair a atenção. É certo que todos que lá iam com idéias preconcebidas sobre as maravilhas do hipnotismo tinham de sair decepcionados. Com efeito, fazendo caso omisso do método de tratamento e algumas ligeiras diferenças, devidas provavelmente a características raciais, a impressão que se tinha era a de estar em um departamento público, numa pensão ou num hospital de clínica geral. Com a diferença de que os pacientes falavam um pouco mais livremente entre si e se dirigiam ao médico de uma maneira mais espontânea do que se costumava ver na Inglaterra. Eram chamados por Turno, e no livro dos casos clínicos registrava-se sua anamnese. Em seguida induzia-se o paciente rapidamente a hipnose seguiam-se as sugestões e as anotações... Quase todos os pacientes dos que eu vi foram hipnotizados de uma maneira fácil e rápida, mas Liébeault me informou que os nervosos e os histéricos eram mais refratários”.

Liébeault soube conquistar a simpatia e a cooperação dos seus pacientes. Contrariamente ao exemplo de Mesmer, que tressudava de pompas, Liébeault era modesto e sem aparato teatral, quer na sua apresentação indumentária, quer no ambiente domiciliar. Com isso estabeleceu a nova linha de conduta para os hipnotizadores modernos.

Em Nancy, Liébeault trabalhou durante dois anos em sua obra Du Smneil et dês états analogues, consideres surtout du point de vue de l’action de la morale sur le physique. Afirma o já citado Bramwell que Liébeault vendeu exatamente um exemplar daquela obra. E, não obstante, muitos historiadores conferem a Liébeault a paternidade do hipnotismo científico.

Conforme se infere do próprio título de sua obra principal, Liébeault ressaltava a influência do psíquico sobre o físico. Acontece que o psíquico ainda era uma coisa misteriosa: A alma humana praticamente inexplorada e as conjecturas que se faziam em torno de sua estrutura e dinâmica, baseadas ainda em provas empíricas. Entrementes, Liébeault estava no caminho certo, podia progredir molestado pelos colegas, mesmo por ser discreto, pobre e não aceitar dinheiro dos pacientes que tratava hipnoticamente.



Bernheim

Hyppolite Bernheim um dos expoentes da medicina na França, homem de reputação inatacável, a princípio contrário ao hipnotismo, resolveu, em 1821, visitar Liébeault em Nancy, presumivelmente para desmascara-lo como charlatão. Bernheim tratara durante seis meses um caso de ciática e fracassara. O caso foi posteriormente curado por Liébeault. O eminente clínico, que vinha com propósitos hostis, logo convenceu-se da autenticidade do fenômeno e tornou-se amigo e discípulo do modesto médico rural. O prestígio de Bernheim muito contribuiu para que o mundo científico acolhesse o hipnotismo ao menos como “uma tentativa em “marcha”. Bernheim, o criador da “escola mental”, insistiu no caráter subjetivo, ou seja, essencialmente psicológico, da hipnose. Em sua obra De la Suggestion, publicada em 1884, Bernheim insiste na necessidade de estudar a técnica sugestiva e as características da sugestíbilidade. Seu método de indução, que é rigorosamente científico, ainda serve de base a todos métodos modernos e é o que oferece as maiores possibilidades de êxito. Bernheim foi o primeiro a vislumbrar na hipnose um estado psicológico normal. O primeiro a lançar a compreensão desse fenômeno em bases mais amplas, mostrando que a sugestíbilidade não era um apanágio dos doentes, pois não se limitava os indivíduos histéricos, conforme se proclamava na “Salpetrière”. Todos nós somos sugestionáveis, uns mais outros menos. “Todos somos alucináveis ou alucinados, Hallucinables ou hallucinés. Com efeito, todos somos indivíduos potencial e efetivamente aliciados durante a maior parte das nossas vidas”... Todos temos a nossa propensão inata á crença, nossa crédibilité naturelle.

São conceitos moderníssimos. Mostram a visão ampla e profunda de um autêntico cientista a transcender os limites convencionais da ciência de sua época.

Charcot

Concomitantemente com a escola de Nancy, representa por Liébeault e Bernheim, funcionava em caráter independente outra em Paris, no hospital da “Salpetriére”, que se intitulava a escola do “grand hipnotisme”, chefiada por um neurologista de grande prestígio, o prof. Jean Martin Charcot. Charcot, que só lidava com histéricos e histero-epilépticos, e cujas experiências hipnóticas se limitavam a três pacientes femininos, estabeleceu a premissa, segundo a qual somente os histéricos podiam ser hipnotizados, não passando o estado de hipnose de um estado de histeria. Concomitantemente com essa premissa, formulou sua teoria dos três estágios hipnóticos: A letargia, a catalepsia e o sonambulismo. O primeiro estágio, que se podia produzir fechando simplesmente os olhos do sujeito, caracterizava-se pela mudez e pela surdez; o segundo estágio, os olhos já abertos, era marcado por um misto de rigidez e flexibilidade dos membros, estes permanecendo na posição em que o hipnotista os largasse. O terceiro estágio, o sonambulismo, se produziria friccionando energicamente a parte superior da cabeça do sujeito. Por sua vez a escola da “Salpetriére” tentou convencer os discípulos que, aplicando um ímã em determinado membro, este se paralisava.

Seria de estranhar que um homem daquela reputação e responsabilidade científicas tivesse idéias tão retrógradas e mesmo ridículas. Bernheim apontou a Charcot os erros, mostrando-lhe que as características por ele consideradas como critério de hipnose podiam ser provocadas artificialmente por mera sugestão. Nasceu daí a histórica controvérsia entre as duas escolas, a da “Salpetrière” e a da Nancy. Recorrendo a um delicado eufemismo, os dirigentes desta última, classificaram o hipnotismo daquela de “hipnotismo cultivado", cujo valor em relação ao hipnotismo de verdade se comparava ao da pérola cultivada em confronto com a pérola natural.

Charcot tinha ainda uma teoria metálica relacionada com o hipnotismo. Segundo essa teoria, a cura de certas doenças dependia tão somente do uso correto dos metais. Conta-se a propósito dessa metaloterapia – lembrada unicamente a título de curiosidade histórica – um episódio pitoresco: Um grupo de alunos de procedência estrangeira estava discutindo sobre a diversidade dos sintomas nervosos dentre os diversos povos, enquanto percorriam em companhia do mestre as diversas dependências da “Salpetrière”. Charcot aproveitou o ensejo para provar aos forasteiros a universalidade do fenômeno anestésico. Iria mostrar que a perda da sensibilidade de uma determinada parte do corpo era rigorosamente a mesma em todos os quadrantes da terra. Todavia, ao espetar a agulha no braço de um paciente, este gritou. A reação inesperada causou um misto de desilusão e de hilariedade entre os discípulos. O mestre, no entanto não tardou em desvendar-lhe os mistério. No local mesmo teria sido informado de que, durante a sua ausência, um dos seus assistentes, o Dr. Burcq, colocara uma placa de ouro no braço do doente. E foi em virtude disso que o enfermo recuperou a sensibilidade... Essa experiência teria convencido Charcot, de uma vez por todas, da veracidade de sua metaloterapia.

As ciências também sofrem os seus golpes de retorno, e esses são tanto mais danosos quando se revestem de uma roupagem pseudocientífica e quando alcançam os gumes da consagração acadêmica. Charcot representa um retrocesso ás teorias fluídicas de Mesmer. E a expressão “retroceder a Charcot” está sendo injusta e maliciosamente usada pelos que procuram desmerecer o hipnotismo contemporâneo.

Entrementes, o hipnotismo ia ganhando terreno, espalhando-se pela Europa e pelos Estados Unidos. Conquanto na imaginação popular o hipnotismo ainda continuasse sendo uma força que não era bem deste mundo e o hipnotista uma espécie de diabo disfarçado em curandeiro ou homem de ciência, eminentes cientistas se incumbiam de sua difusão. Homens como Krafft-Ebing e Breuer na Áustria, Forell na Suíça, Wetterstrand na Suécia, Lloyd Tuckey e Bramwell na Inglaterra, Heidenhain na Alemanha, Felkin na Escócia, Mcdougall e Phineas Quimby nos Estados Unidos, a prestigiar a ciência e dar-lhe impulso científico-terapêutico. E não apenas o hipnotismo médico, senão também o hipnotismo recreativo, Proporcionava as platéias daqueles tempos soberbos espetáculos. Grandes hipnotizadores de palco como Donato e Hansen arrebatavam as multidões com suas demonstrações.



Pavlov

A influência de Pavlov no desenvolvimento do hipnotismo contemporâneo restringe-se geograficamente ao oriente europeu (Rússia e países satélites). Originalmente limitava-se ao hipnotismo animal, já que os sujeitos de Pavlov eram cães. Obrigados a dar uma interpretação rigorosamente materialista a toda atividade nervosa e mostrar-se sistematicamente avessos aos aspectos psicológicos da hipnose, os adeptos da escola pavloviana, não raro, incorrem em uma falsidade primordial, fazendo psicologia passar por fisiologia, para se assegurarem um relativo êxito na indução de seres humanos. E nem podia ser de outra forma, uma vez que a hipnose humana é, acima de tudo, um processo psicológico, cabendo á fisiologia, no caso, o papel relativamente modesto de mera coadjuvante. Referir-se a hipnose em termos de fisiologia seria trazer uma verdadeira confusão semântica para a ciência hipnológica. (*)

Com toda sua aversão aos aspectos psicológicos do hipnotismo, Pavlov contribuiu positivamente para a confirmação dos mesmos.

(*) A contribuição de Pavlov ao hipnotismo teve por subsídio o seu trabalho “Sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão”. As suas experiências com cães devemos também a sua doutrina da inibição preventiva: a Doutrina da excitação e inibição corticais, os dois princípios que regem a atividade nervosa superior dos animais e dos seres humanos. Os estímulos que provocam uma ou outra dessas duas atividades são relativamente fáceis de controlar em animais – dominados apenas pelo primeiro sistema de sinalização – tornando complicados e complexos no homem, ao qual, segundo Pavlov, se aplica, além do primeiro, um segundo sistema.

Com efeito, para induzir um cão, o método pavloviano é, sem dúvida, o indicado e o suficiente. Aplicando-lhe os estímulos fisiológicos na dosagem adequada, o cão dormira em cima da mesa. Para levar a hipnose um anima, não teremos de apelar para a imaginação. A diferença do homem, o cão, satisfeitas as suas necessidades fisiológicas, não tem problemas a justificar uma resistência maior aos intentos do operador, que o manipula ao seu bel prazer. Os problemas emocionais de um cão, conquanto existem não se comparam aos recalques ou complexos que tornam problemática, quando não impossível, a hipnotização em tantas criaturas humanas.

Uma cadelinha (a exemplo da Laika do Sputinik I) pode ser facilmente condicionada para que, ao som de uma campainha ingira alimentos (e em quantidades determinada) e, ao som de outra realize, pontualmente, as seus funções excretoras. Não há perigo de, no momento assinalado, passar-lhe pela cabeça, algum propósito mais importante e mais excitante do que o de comer e o de eliminar. Para hipnotiza-la, bastam os métodos objetivos com os respectivos expedientes fisiológicos. O seu “sono” é, com efeito, obtido “por meios naturais”, a base dos mecanismos excitados-inibitórios. Quando, porém, o paciente é um ser humano, o expediente hipnótico se complica e não prescindimos do psicólogo, salvo quando se trata de um bom sujeito, desses que respondem a qualquer processo de indução, prescindindo, inclusive, da presença do hipnotizador.


Freud

Ocorreu um cochilo, um período de relativo esquecimento de trinta e mais anos no mundo das atividades hipnóticas. Como responsáveis por esse eclipse os historiadores apontam a popularidade da psicanálise e a pessoa de seu fundador, Sigmund Freud, que rejeitou o hipnotismo em seu método terapêutico, depois de ter-se dele servido como ponto de partida em suas descobertas psicológicas. Acontece que o homem destinado a assestar ao hipnotismo semelhante golpe, se tornou posteriormente responsável pela sua ressurreição. Já se disse que a volta triunfal do hipnotismo em bases psicológicas modernas é largamente devida a psicanálise. Quando as suas técnicas modernas, são uma conseqüência direta da orientação e penetração psicanalíticas. Fazendo nossas as palavras de Zilboorg, ninguém duvida atualmente de que a influência e os efeitos do magnetizador ou hipnotizador se fundam essencialmente, senão exclusivamente, nas profundas reações inconscientes do sujeito. O conceito do inconsciente ainda era desconhecido na época de Braid e coube a este formular de uma maneira puramente descritiva o que sentia intuitivamente. Em outro capítulo tornaremos a falar na contribuição da psicanálise à psicologia hipnodinâmica e à moderna hipnoterapia, e na figura de Freud como personagem na história do hipnotismo.



O HIPNOTISMO NO BRASIL

O súbito reaparecimento do hipnotismo no Brasil, por volta de 1953, não constitui, como pode parecer a primeira vista, uma dessas reviravoltas que ocorrem esporadicamente no mundo das ciências. É parte do ressurgimento do hipnotismo no plano mundial. É uma “revir volta” historicamente condicionada, dessas não suscetíveis de improvisação. Há trinta anos, aproximadamente, o eminente polígrafo Medeiros e Alburquerque escrevia sobre hipnotismo para os brasileiros. A sua obra “O HIPNOTISMO” foi durante mais de duas décadas o único trabalho no gênero. Todavia, a sua contribuição ficou na órbita do livro, da comunicação com o público pela via literária. Segundo um cronista, nosso contemporâneo, (*) fomos nós que Medeiros e Albuquerque clarividentemente sonhava.Com efeito, o hipnotismo, ao tempo de Medeiros e Albuquerque ainda estava no seu período de latência, a espera do momento historicamente oportuno para ressurgir, no mundo inteiro. No Brasil foram, notoriamente, as nossas primeiras demonstrações em auditórios e TVs, as nossas entrevistas a imprensa, os nossos cursos e este livro, que o popularizaram. O primeiro curso de hipnotismo a suas técnicas modernas foi ministrado por nós a uma turma de médicos e dentistas, em outubro de 1955, a convite de Associação Brasileira de Odontologia, no Rio de Janeiro. Desde então, vimos mantendo cursos em intervalos regulares até presente data. Já ministramos conhecimentos práticos e teóricos sobre hipnose a mais de três mil alunos, a maioria dos quais médicos e odontológicos. Em 1956, um grupo de alunos nossos, tendo a frente os Drs. Alberto L Baretto, Eurico da Silva Mattos e Álvaro Badra, fundaram a sociedade Paulista de hipnotismo. No mesmo ano tivemos ensejo de ministrar um curso na cidade de Porto Alegre, Ocasião em que se fundou ali a sociedade de hipnologia do Rio Grande do Sul, tendo como presidente o Dr, Cezar Bomgahren. Movimentos não menos frutíferos se verificaram na Bahia, em Santos e em Belo Horizonte.

(*) Referimo-nos à crônica de Moacir Andrade, publicada nos Diários Associados: Weissmann e Medeiros e Albuquerque.

Não iremos entretanto reinvidicar todos os fatos mercantes da história do hipnotismo no Brasil para a nossa escola. Esporadicamente, tem-se organizado cursos e inclusive publicado trabalhando fora da mesma.

A minha passagem pelos auditórios e TVs, objeto de alguns infundados reparos acadêmicos, teve caráter episódico e deveu-se a uma iniciativa dos "Diários Associados", que, em 1953, solicitaram a minha contribuição para uma campanha beneficente cujo objetivo era angariar fundos para a construção de um sanatório para tuberculosos indigentes, em Belo Horizonte. Eu deveria falar sobre um tema fascinante. como psicanalista de Penitenciária, que experimentara em caráter pioneiro, também a hipnoanálise, sugeri os temas: Neurose e Criminalidade e Conceitos Contemporâneos de Hipnose e Sugestão. A preferência recaiu sobre esse último com a condição de não adstringir-me na minha palestra aos aspectos teóricos da hipnose. Não me pediram um espetáculo de hipnotismo, senão apenas uma demonstração científica recreativa, capaz de convencer os céticos que a hipnose realmente funciona, convencendo e divertindo-os ao mesmo tempo. Em suma, uma demonstração que fosse um verdadeiro espetáculo. Seria uma concessão, mas não um desserviço à ciência. A qualidade dramática da hipnose garantiria o êxito, mas este ultrapassou em muito ao que havíamos esperado. Tive de apresentar-me centenas de vezes em público. Das demonstrações públicas, ao mesmo tempo didáticas e recreativas, que, como tais, não condeno e jamais condenarei (fazer rir é um dos maiores benefícios que se pode prestar ao próximo), resultaram os cursos. Dos cursos, ou mais precisamente, das apostilas, surgiu este livro, que já passou da casa dos cem mil exemplares, e que contém um capítulo sobre hipnotismo de palco em que narro algumas das minhas experiências nesse terreno. Contudo, não faço jus ao título de hipnotista de palco. Não passei de um episódico, embora bem sucedido, amador nessa especialidade.

De resto, a história do hipnotismo, não somente aqui, como em toda parte, tem seus claros e escuros. Não unicamente uma história de pesquisas e trabalho construtivos, senão também uma história de ambições pessoais, de ciúmes e rivalidades, dadas as manifestações psicológicas, que – conforme já se disse – envolvem em grau mais ou menos comprometedor a maioria dos praticantes e estudiosos dessa ciência. Mas isso não deve justificar ceticismo. Existem fortes razões para augurarmos ao hipnotismo no Brasil um auspicioso futuro.



Hipnose



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Eu mesma fiz uso dessa ferramenta para literalmente 'Curar' uma fobia que tinha de Avião, que me custava muito mal estar e deixava de fazer muitas viagens devido esse empasse! Hoje graças à Hipnose Terapëutica eu não tenho mais essa Fobia e foi muito breve o tratamento , apenas 2 sessões! Foi quando decidi aprender a respeito desse assunto que para muitos é um assunto polêmico e repleto de mitos, e fui procurar uma grande profissional e referência na América Latina ,minha mestre maravilhosa Inês Marcel onde adquiri brilhantes ensinamentos e hoje posso colocar em prática juntamente com outras ferramentas de trabalho para auxiliar ainda mais as Pessoas!